Narrar o presente, recordar o passado

Narrating the Present, Remembering the Past

Abstract: What do scenes from a quiet Brazilian town, the memory of one of the greatest rural social conflicts in the country’s republican history, photographs produced by adolescents and new historical narratives have in common? This article tells the story of an exhibition collectively produced by a university and a school in the interior of Brazil. It takes a position on the relations between public history and historical dissemination while defending a lineage of public history more committed to the process of collaborative knowledge production than to the researcher’s quest for likes and self-centered production.
DOI: dx.doi.org/10.1515/phw-2022-20739
Languages: Portuguese, English


A história pública tem sido apresentada como um dos mais importantes antídotos para a difusão de narrativas históricas negacionistas e de projetos de entretenimento comercial sem compromisso com a pesquisa histórica e com a memória dos mortos. Porém, nesse processo, tem sido comum confundir história pública com divulgação histórica.

A Guerra do Contestado vista pelos adolescentes

Olhar a vida cotidiana pelas lentes da máquina fotográfica é como desmontar o cenário cristalizado pela retina. Quando esse exercício envolve a história de um conflito em que a memória oficial tem atuado há mais de um século para desqualificar a trajetória dos sujeitos do passado, a tarefa se faz mais desafiadora, pois inclui o compromisso ético e político com a memória dos mortos.[1]

Foi com esse desafio que construímos o exercício de trabalho coletivo que iniciou com oficina de fotografia e culminou com a divulgação de exposição virtual de fotografias sobre os remanescentes da Guerra do Contestado (1912-1916) no município de Rio das Antas, Santa Catarina.[2]

A Guerra do Contestado teve como elementos motivadores a luta contra a exploração do trabalho, a crise do sistema de dominação das lideranças políticas locais, chamadas de coronéis, o combate à exploração econômica da empresa multinacional que construiu a estrada de ferro, a Brazil Railway Company, bem como a empresa de exploração de madeira e colonização de terras chamada Southern Lumber and Colonization Company.[3]

Estima-se que tenham morrido dez mil pessoas nessa rebelião brasileira. Apesar do aniquilamento físico e da campanha de desqualificação moral das lideranças, promovida na imprensa pelos coronéis e pelos militares, a fé na santidade do curandeiro que mobilizou a população resistiu e vigora até a atualidade. Conhecido como monge João Maria, ele se encarregou de benzer, aconselhar, casar e receitar remédios populares para as pessoas.[4]

É nesse contexto, caracterizado pela crença no monge e pelos vestígios matérias e paisagísticos da Guerra do Contestado, que se destaca um, dos muitos municípios de Santa Catarina, que serviu de palco para a Guerra do Contestado. Trata-se da pequena cidade de Rio das Antas. Com aproximadamente 10 mil habitantes, Rio das Antas é cortada pelo rio do Peixe e pela estrada de ferro que outrora contribuiu para explorar a mão de obra dos trabalhadores locais e expulsá-los de suas terras.

Foi nesse município que em maio de 2022 uma equipe de professores e estudantes da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) se dirigiu para realizar oficina de iniciação à fotografia e ao Podcast junto a adolescentes da escola de educação básica Jacinta Nunes. Os estudantes, com idade aproximada de 11 e 13 anos de idade, fizeram mais de mil fotografias. Dessa experiência de saberes compartilhados, nasceu a exposição virtual “Limiar: narrar o presente e lembrar do passado”, abrigada na plataforma Artsteps.

Fig. 1: Imagem da cidade. Projecto Estação Contestado, uma autoria colectiva de estudantes do Rio das Antas, SC, Brasil.

Desmontar, montar, divulgar

A proposta da exposição nasceu do desejo de prolongar a experiência da oficina de fotografia, valorizando esteticamente os registros feitos durante a nossa visita. Outra motivação foi a de compartilhar as fotos com a comunidade escolar. A preparação de uma exposição presencial exigiria recursos financeiros e novos deslocamentos para os quais não tínhamos orçamento. Foi cogitado apresentar as fotos ao longo do mês nas redes Instagram e Facebook do projeto Estação Contestado,[5] mas esta opção nos pareceu pouco impactante, além de pouco original, diante da beleza das imagens.

A opção pela plataforma Artsteps nos pareceu a mais vantajosa. Isso porque ela era gratuita e também porque permitia agrupar as imagens em sala, como se fosse um museu. Como essa proposta era totalmente desconhecida pela comunidade, ela ainda acrescentava o ingrediente do impacto das imagens separadas em salas e em espaço interativo.

Preparar a exposição exigiu alguns desafios: como selecionar e montar as imagens em unidades temáticas? Como preparar as legendas, o título de cada sala e as molduras para cada fotografia? Como distribuí-las nas paredes de forma harmônica? Como tratar algumas imagens digitalmente alterando contrastes, brilho e foco? Tudo isso foi debatido pelos estudantes no Laboratório de Imagem e som e levou mais de 30 dias de reuniões e conversas.

Fig. 2:  Cemitério. Projecto Estação Contestado, uma autoria colectiva de estudantes do Rio das Antas, SC, Brasil.

Durante a montagem foram incluídos no espaço expositivo: trilha sonora de fundo com versão Lo-Fi de música composta pelo folclorista Vicente Telles, mapa da região, texto de apresentação da exposição, vídeo com créditos registrando o nome de todos os adolescentes que participaram da oficina fotográfica, assim como o nome da equipe do projeto Estação Contestado. A autoria das imagens foi coletiva, isso porque, durante a oficina os equipamentos fotográficos do Laboratório de Imagem e Som (LIS), utilizados para fazer os registros, foram compartilhados de mão em mão entre os(as) adolescentes.

Antes de liberar a plataforma para o público fizemos uma pré-inauguração para apresentar a exposição aos alunos(as) da escola Jacinta Nunes em Rio das Antas. Isso foi feito junto ao professor da escola, Arthur Peixer, que reuniu a turma no auditório para acompanhar a apresentação da exposição virtual. Durante a apresentação os estudantes se reconheceram e reviveram imaginariamente o dia que as fotos foram feitas e se divertiram com a possibilidade de transitar pelo espaço expositivo.

O fazer-se da História Pública no Brasil

Alguns aspectos dessa experiência de trabalho merecem destaque, pois são indicativos de uma forma de produção de conhecimento alinhado à história pública em desenvolvimento no Brasil.[6] Proposta que tem se distanciado do caráter de divulgação histórica muitas vezes atrelado à prática da história pública de forma apressada. O que destacamos são antes as potencialidades da produção e da aprendizagem que o impacto quantitativo da divulgação, a saber:

  1. Mobilização da comunidade. A experiência levou o prefeito da cidade e a secretaria de educação até a escola. Nesse contato, estabeleceu-se o compromisso da prefeitura financiar a ida dos estudantes para uma visita na universidade. Maioria dos adolescentes nunca foram até a capital do Estado (mais de 400 km de distância), assim como, sequer conhecem o litoral.
  2. Estranhar e temporalizar os espaços da cidade. Enquanto caminhávamos para fazer os registros fotográficos, destacamos para os estudantes o papel que o Rio do Peixe, que corta a cidade, teve na travessia e movimento de mercadorias durante a Guerra do Contestado; dos relatos sobre o número de pessoas degoladas e jogadas ao rio; das tecnologias de transporte fluvial da época, das camadas temporais de transformações físicas passadas pelo rio.
  3. Mobilização de conceitos históricos como classe social. Foram levantadas questões sobre a exploração da mão de obra dos trabalhadores que construíram a estrada de ferro, a ausência de seus nomes nas placas de registro de memória na estação ferroviária, assim como sobre os túmulos que imortalizam o nome e a identidade dos mortos de classes sociais dominantes no cemitério, enquanto silencia sobre a presença de homens e mulheres pobres do período.
  4. Troca de afetos e interações sociais. Da parte dos adolescentes conhecemos um pouco de suas trajetórias, das famílias que trabalham na agricultura, no comércio e na prestação de serviços na cidade, dos sonhos nutridos por alguns em fazer curso universitário, do gosto e da curiosidade pelas novas tecnologias.
  5. Novas relações com o saber histórico. Analisar as imagens junto com os estudantes após a oficina, mostrar os detalhes e identificar os elementos estéticos e históricos registrados, ampliou a perspectiva do que é história e de como é possível apresentá-la ao público.
  6. Novas formas de narrar o passado. Os estudantes da UDESC, futuros professores de história, não apenas aprenderam a manusear a plataforma digital Artsteps, como tiveram que refletir coletivamente sobre o processo de seleção das imagens, a organização dos temas por sala, a construção dos textos de apresentação e as legendas. Em suma, tiveram que fazer iniciação em curadoria e montagem de uma exposição virtual.
  7. Expertise do historiador(a). No percurso de trabalho as questões e ferramentas da história pública foram balizadoras de todo o processo de interação e construção colaborativa nesse projeto.  Além disso, a experiência mobilizou as ferramentas de formação da história, como a pesquisa em fontes, o levantamento bibliográfico e a organização de roteiro de passeio pela cidade de Rio das Antas.

Considerações finais

A produção de novos olhares e novas narrativas sobre a cidade promoveu a interação entre o público escolar e o público acadêmico, trocou afetos e construiu novos laços de amizade e de parceria. Mais do que o número de likes e visualizações que essa atividade angariou, ficou o aprendizado e a experiência em comum. Ela fez, e fará, diferença na trajetória de todos e todas que se envolveram no trabalho.

E esse aprendizado talvez seja a maior contribuição que a prática da história pública pode oferecer às novas gerações de estudantes, educadores e demais membros da comunidade, isso porque renova o sentido e a prática da produção do conhecimento histórico produzido dentro e fora da universidade.

_____________________

Leitura adicional

  • Almeida, Juniele Rabêlo de,  and Rodrigues, Rogério Rosa. História pública em movimento. São Paulo: Letra e Voz, 2021.
  • Borges, Viviane, and Rodrigues, Rogério Rosa, História Pública e História do Tempo Presente. São Paulo: Letra e Voz, 2021.
  • Espig, Márcia J.; Tomproski, Alexandre A.; Machado, Paulo Pinheiro and Rodrigues, Rogério R. . O lugar do Contestado na história do Brasil Ferreira, Rodrigo de A., and  Hermeto,  História Pública e Ensino de História. Vitória: Milfontes, 2021.

Recursos da web

_____________________

[1] Para maiores detalhes sobre as temporalidades que atravessam a história e a memória da Guerra do Contestado ver o artigo: Rogério Rosa Rodrigues, “Now-time (Jetztzeit), History of the Present Time and The Contestado War”, Tempo e Argumento (Florianópolis, e0111, 2021). https://doi.org/10.5965/21751803ne2021e0111
[2] A exposição virtual “Limiar: narrar o presente e lembrar o passado”, realizada em Rio das Antas, interior do Estado de Santa Catarina, Brasil, tratou da história de uma das rebeliões populares mais importantes da história do Brasil republicano: a Guerra do Contestado. Exposição disponível em: https://www.artsteps.com/view/62a9ce107a80e0894ee57a92?currentUser
[3] Sobre os vínculos da Guerra do Contestado com o avanço do capitalismo no interior do Brasil ver o livro: Todd Diacon, Millenarian vision, capitalista reality: Brazil´s Contestado rebellion, 1912-1916 (Durham, Duke University, 1991).
[4] Para conhecer a presença da fé e da tradição do monge João Maria entre as populações remanescentes da Guerra do Contestado na atualidade ver o documentário Terra Cabocla produzido pela diretora Márcia Paraíso. O filme está disponível em: https://vimeo.com/manage/videos/131394162
[5] Página do projeto Estação Contestado no Instagram disponível em: https://www.instagram.com/estacao.contestado/
[6] Juniele Rabelo de Almeida, Rogerio Rosa Rodrigues (orgs.). 2021. História Pública em Movimento. São Paulo: Letra e Voz.

_____________________

Créditos da imagem

Imagem de título: © Projecto Estação Contestado, uma autoria colectiva de estudantes do Rio das Antas, SC, Brasil.
Fig. 1: Imagem da cidade, © Projecto Estação Contestado, uma autoria colectiva de estudantes do Rio das Antas, SC, Brasil.
Fig. 2: Cemitério, © Projecto Estação Contestado, uma autoria colectiva de estudantes do Rio das Antas, SC, Brasil.

Citação recomendada

Rosa Rodrigues, Rogério: Narrar o presente, recordar o passado. In: Public History Weekly 10 (2022) 8, DOI: dx.doi.org/10.1515/phw-2022-20739.

Responsabilidade editorial

Michel Kobelinski / Juniele Rabêlo de Almeida

Public history has been presented as one of the most important antidotes to the spread of denialist historical narratives and commercial entertainment projects with no commitment to historical research and the memory of the dead. However, in this process, it has been common to confuse public history with historical dissemination.

The Contestado War as Seen by Teenagers

Looking at everyday life through the lens of the camera is like dismantling the scenario crystallized by the retina. When this exercise involves the history of a conflict in which the official memory has acted for more than a century to disqualify the lives of the subjects of the past, the task becomes more challenging, for it includes an ethical and political commitment to the memory of the dead.[1]

It was with this challenge that we built the exercise of collective work that began with a photography workshop and culminated with the promotion of a virtual exhibition of photographs about the remnants of the Contestado War (1912-1916) in the city of Rio das Antas, Santa Catarina.[2]

The Contestado War’s motivating elements included the fight against labor exploitation, the crisis against the dominating system of the local political leaders called colonels, the fight against the economic exploitation of the multinational company that built the Brazilian Railway Company, as well as against the logging and land colonization company called Southern Lumber and Colonization Company.[3]

An estimated ten thousand people died in this Brazilian rebellion. Despite the physical annihilation and the campaign of moral disqualification of the leaders, promoted in the press by the colonels and the military, the faith in the sanctity of the healer who mobilized the population resisted and is still present today. Known as the monk João Maria, he oversaw blessing, counseling, marrying, and prescribing folk remedies to the people.[4]

It is in this context that one of the many towns in Santa Catarina, which served as the stage for the Contestado War, stands out. It is the small town of Rio das Antas. With approximately 10 thousand inhabitants, Rio das Antas is crossed by the Peixe River and by the railroad that once contributed to the exploatation of the local workers’ labor and their expulsion from their land.

It was in this town that, in May 2022, a team of professors and students from the Santa Catarina State University (UDESC) went to conduct an introductory workshop on photography and podcast with teenagers from the Jacinta Nunes elementary school. The students, aged approximately 11 and 13, took more than a thousand photographs. From this experience of shared knowledge emerged the virtual exhibition “Limiar: narrating the present and remembering the past”, hosted on the Artsteps platform.

Fig. 1: Image of the city.  Estação Contestado project, a collective authorship of students from Rio das Antas, SC, Brazil.

Dismantle, Assemble, Disclose

The proposal of the exhibition was born from the desire to extend the experience of the photography workshop, aesthetically enhancing the records made during the visit. Another motivation was to share the photos with the school community. The preparation of a face-to-face exhibition would require financial resources and new trips for which we had no budget. Presenting the photos throughout the month on the “Estação Contestado” project’s[5] Instagram and Facebook was first considered, but this option seemed to have little impact, besides being unoriginal, given the beauty of the images.

Thus, the Artsteps platform seemed to be the most advantageous because it was free and allowed the images to be displayed as if they were in a museum. As this proposal was totally unfamiliar to the community, it still added the impactful ingredient of displaying the images in separate rooms and in an interactive space.

Some questions were raised during the preparation of  the exhibition: How can the images be selected and assembled in thematic units? How can we prepare the captions, the title of each room, and the frames for each photograph? How can we arrange them on the walls in a harmonious way? How can we digitally edit some images by changing contrasts, brightness and focus? All this was discussed by the students in the Image and Sound Laboratory and took more than 30 days of meetings and conversations.

Fig. 2:  Cemetery. Estação Contestado project, a collective authorship of students from Rio das Antas, SC, Brazil.

During the assembly, the following were included in the exhibition: background soundtrack with a Lo-Fi version of a song composed by folklorist Vicente Telles, a map of the region, a text introducing the exhibition, a video with credits recording the names of all the teenagers who participated in the photographic workshop, as well as the names of the “Estação Contestado” project team. The authorship of the images was collective, because, during the workshop, the photographic equipment from the Image and Sound Laboratory (LIS) used to make the records was shared hand to hand among the adolescents.

Before releasing the platform to the public, we held a pre-inauguration to present the exhibition to the students of the Jacinta Nunes school in Rio das Antas. This was done together with the schoolteacher, Arthur Peixer, who gathered the class in the auditorium to follow the presentation of the virtual exhibit. During the presentation, the students recognized themselves and imaginatively relived the day the photos were taken. They had fun with the possibility of moving through the exhibition space.

Making Public History in Brazil

Some aspects of this work experience deserve to be highlighted, for they are indicative of a form of knowledge production aligned to the public history under development in Brazil.[6] This proposal has distanced itself from the character of historical dissemination often hastily linked to the practice of public history. What we highlight are rather the potentialities of production and learning than the quantitative impact of dissemination, namely:

  1. Mobilization of the community. The experiment brought the mayor of the city, the school board and the secretary of education to the school. With this contact, a commitment was established for the city government to finance the students’ visit to the University. Most of the teenagers have never been to the state capital (more than 400 km away), as many of them have never visited the coast.
  2. Strangeness and temporalization of the city spaces. While we were walking around and creating the photographic records, we highlighted several interesting facts to the students. For example, the role that the Peixe River, which cuts through the city, had in the crossing and movement of goods during the Contestado War, the reports about the number of people beheaded and thrown into the river, the river transport technologies of the time, the temporal layers of physical transformations that the river experienced over time.
  3. Mobilization of historical concepts, such as social class. Questions were raised about the exploitation of the labor of the workers who built the railroad, the absence of their names on the memory registry plaques in the railway station, as well as the graves that immortalize the name and identity of the dead from dominant social classes in the cemetery, while silencing the presence of the poor men and women of the period.
  4. Exchange of affections and social interactions. As for the adolescents, we got to know a little about their lives, their families working in agriculture, commerce, and services in the city, the dreams nurtured by some of them in taking a university course, along with their taste and curiosity for new technologies.
  5. New relations with historical knowledge. Analyzing the images with the students after the workshop, showing the details, and identifying the aesthetic and historical elements recorded, broadened the perspective of what history is and how it is possible to present it to the public.
  6. New ways to narrate the past. The UDESC students, future history teachers, not only learned how to handle the digital platform Artsteps, but also had to reflect collectively about the process of selecting image selection, organizing themes by room, and constructing the presentation’s texts and subtitles. In short, they had to create an initiation of curating and setting up a virtual exhibition.
  7. Expertise of the historian. The course of working with the issues and tools of public history was the beacon of the whole process of interaction and collaborative construction in this project.  Besides, the experience mobilized the tools of history education, such as researching sources, the bibliographical survey, and organizing a tour itinerary of the city of Rio das Antas.

Final Considerations

The production of new looks and new narratives about the city promoted the interaction between the school and the academic public, exchanged affections, and built new friendship and partnership bonds. More than the number of likes and views that this activity garnered, what remained was the learning and common experience. It made, and will make, a difference in the lives of everyone who was involved in this work.

This learning experience is perhaps the greatest contribution that the practice of public history can offer to new generations of students, educators, and other members of the community, because it renews the meaning and the practice of the production of historical knowledge produced inside and outside the university.

_____________________

Further Reading

  • Almeida, Juniele Rabêlo de,  and Rodrigues, Rogério Rosa. História pública em movimento. São Paulo: Letra e Voz, 2021.
  • Borges, Viviane, and Rodrigues, Rogério Rosa, História Pública e História do Tempo Presente. São Paulo: Letra e Voz, 2021.
  • Espig, Márcia J.; Tomproski, Alexandre A.; Machado, Paulo Pinheiro and Rodrigues, Rogério R. . O lugar do Contestado na história do Brasil Ferreira, Rodrigo de A., and  Hermeto,  História Pública e Ensino de História. Vitória: Milfontes, 2021.

Web Resources

_____________________

[1] For more details on the temporalities that cut across the history and memory of the Contestado War see the article: Rogério Rosa Rodrigues, “Now-time (Jetztzeit), History of the Present Time and The Contestado War”, Tempo e Argumento (Florianópolis, e0111, 2021). https://doi.org/10.5965/21751803ne2021e0111
[2] The virtual exhibition “Threshold: narrating the present and remembering the past”, held in Rio das Antas, interior of the state of Santa Catarina, Brazil, dealt with the history of one of the most important popular rebellions in the history of republican Brazil: The Contestado War. Exhibit available at: https://www.artsteps.com/view/62a9ce107a80e0894ee57a92?currentUser
[3] On the links of the Contestado War with the advance of capitalism in Brazil’s interior see the book: Todd Diacon, Millenarian vision, capitalista reality: Brazil´s Contestado rebellion, 1912-1916 (Durham, Duke University, 1991).
[4] To learn about the presence of the faith and tradition of monk João Maria among the remnants of the Contestado War today, see the documentary Terra Cabocla (Caboclo Land) produced by director Márcia Paraíso. The film is available at: https://vimeo.com/manage/videos/131394162
[5] Contested Station project page on Instagram available at: https://www.instagram.com/estacao.contestado/
[6] Juniele Rabelo de Almeida, Rogerio Rosa Rodrigues (orgs.). 2021. História Pública em Movimento. São Paulo: Letra e Voz.
_____________________

Image Credits

Title image:  © Estação Contestado project, a collective authorship of students from Rio das Antas, SC, Brazil.
Fig. 1: Image of the city, © Estação Contestado project, a collective authorship of students from Rio das Antas, SC, Brazil.
Fig. 2: Cemetery, © Estação Contestado project, a collective authorship of students from Rio das Antas, SC, Brazil.

Recommended Citation

Rosa Rodrigues, Rogério: Narrating the Present, Remembering the Past. In: Public History Weekly 10 (2022) 8, DOI: dx.doi.org/10.1515/phw-2022-20739.

Editorial Responsibility

Michel Kobelinski / Juniele Rabêlo de Almeida

Copyright © 2022 by De Gruyter Oldenbourg and the author, all rights reserved. This work may be copied and redistributed for non-commercial, educational purposes, if permission is granted by the author and usage right holders. For permission please contact the editor-in-chief (see here). All articles are reliably referenced via a DOI, which includes all comments that are considered an integral part of the publication.

The assessments in this article reflect only the perspective of the author. PHW considers itself as a pluralistic debate journal, contributions to discussions are very welcome. Please note our commentary guidelines (https://public-history-weekly.degruyter.com/contribute/).


Categories: 10 (2022) 8
DOI: dx.doi.org/10.1515/phw-2022-20739

Tags: , , , , ,

3 replies »

  1. To all readers we recommend the automatic DeepL-Translator for 22 languages. Just copy and paste.

    Educação Histórica e “Resistências Caboclas”?

    Quais os impactos dos ensaios fotográficos dos alunos do Ensino Fundamental sobre o passado traumático da comunidade de Rio das Antas, Santa Catarina? A exposição virtual Limiar: narrar o presente e lembrar o passado nos coloca diante da complexidade da expressão em fotografia e sua associação com compartilhamentos de conteúdos sonoros (podcasts). A habilidade desenvolvida por alunos da Escola Elementar na Oficina de fotografia & Podcast partiu de importantes referências visuais da Guerra do Contestado (1912-1916), episódio traumático e sangrento da história brasileira que ceifou milhares de vidas de camponeses.
    Logo, nossa “profundidade de campo” e capacidade de escuta, responsivas, ajustam-se para destacar lustros públicos da cultura fotografia regional e polifonias que lidam com uma história sensível. A História do Contestado se enquadra na virada afetiva – e também na virada da história pública no Brasil – ao tratar de temas sensíveis ou catastróficos, mobilizando a sociedade local e regional para um movimento coletivo e plural que podemos chamar de Resistências Caboclas.

    Não é fácil definir as Resistências Caboclas porquê elas se diluem no tempo e no espaço. Hoje elas ganham força em iniciativas diversificadas de professores, estudantes e interessados que se propõem a construir uma história e uma identidade, geralmente fustigadas pela ausência de políticas de memória, pelo ensino de história e por usos equivocados do passado por órgãos públicos estaduais e municipais. Machado (2017) chama a atenção para a responsabilidade dos historiadores na divulgação e mediação do conhecimento histórico sobre a Guerra do Contestado entre alunos do Ensino Fundamental. Em relação aos públicos mais amplos, consideramos ser necessário combater a desqualificação e a subalternização da população cabocla, geralmente vista como “fanática, ignorante e violenta”(1).

    As narrativas infames sobre os caboclos do contestado não foram produzidas pelas pessoas que não puderam falar, mas por pessoas e grupos que fizeram silenciar. O discurso indigno que exalta o heroísmo do vencedores e a rebeldia dos vencidos deve ser analisado e discutido coletivamente. E se essas falas se repercutem publicamente – em sala de aula e na comunidade -, a oportunidade é excelente para que os historiadores estabeleçam diálogo público, inclusivo e democrático. Nesse sentido, as ações colaborativas entre associação cultural, professores e a Prefeitura Municipal de Lebon Regis ( Santa Catarina), no primeiro Concurso de fotografia e desenho para a VI Semana do Contestado, mostrou-se muito instigante.(2) Depois, em processo de escrita e interpretação colaborativa, embasada nos desenhos de crianças, Rosa (2022) reflete a violência histórica na região, procurando valorizar a memória e a história dos mortos e sobreviventes da Guerra do Contestado.(3)

    A educação histórica desenvolvida na comunidade de Rio das Antas é inspiradora e se reveste de sensos de lugar, interpretações histórias e processos colaborativos que culminaram em composições fotográficas que refutam as desumanidades provocadas por uma guerra insana contra os sertanejos. O historiador deve ir às ruas, analisar a paisagem e, ao mesmo tempo, estabelecer correspondências e interações com o público. (4) Os resultados apresentados no texto Narrar o presente, lembrar o passado são expressivos e exigem que sejamos capazes ir além da associação entre imagens, sons e textos nos suportes presencial e virtual para termos uma ideia desse passado conturbado, registrado pelas lentes e vozes de seus colaboradores. Assim, operando nos limites do real e do virtual, poderemos localizar onde a história pública está, como ela é trabalhada em sala de aula e como como ela pode ser compreendida e utilizada pelas comunidades.(5)

    Avaliar a difusão e a absorção de imagens e podcasts entre as audiências é difícil por vários motivos. Em primeiro lugar é preciso sublinhar que o ensino de história envolve subjetividades históricas difíceis de serem assimiladas e desenvolvidas junto às comunidades. Distante da academia e da escola, narrativas contraditórias subalternizam populações caboclas e as colocam em conflito com as trajetórias de imigrantes. É importante ressaltar que houve miscigenação e que os imigrantes europeus eram camponeses analfabetos, refugiados de guerras e conflitos em seus países. Em vista disso, é preciso pensar que o diálogo e a mediação em história pública “não seja a contraposição de perspectivas, mas um espaço entre, um espaço que traga luz sobre a diferença e a diversidade, sobre os conflitos e as ausências”.(6)

    O Projeto Estação Contestado oportunizou práticas de história nos espaços públicos. Ali, as resistências caboclas se aproximaram das perspectivas da histórica pública e da história local, uma vez que os resultados partiram de fontes sensíveis sobre trajetórias humanas silenciadas. Nesse caso, historiadores e alunos, consideraram o que é essencial em história pública, os sentimentos de comunidade e suas diferenças, a colaboração e o compartilhamento, além de propiciar diálogos públicos constantes e consistentes.

    ___
    1. Pinheiro Machado, Paulo, 2017, CADERNOS DO CEOM, v. 30, p. 73-80, 2017.
    2. I Concurso de Foto e Desenho. Associação Cultural Coração do Contestado. Disponível em https://web.facebook.com/photo/?fbid=143885210714185&set=pcb.143885607380812
    3. Rosa, Rogério, 2022, in: Revista NUPEM, Campo Mourão, v. 14, n. 33.
    4. Andrew, Hurley, 2010, Beyond preservation: using public history to revitalize inner Cities. Philadelphia: Temple University Press.
    5. Kean, Hilda. Where Is Public History? in: Dean, D. M. (David M.), A companion to public history. Hoboken, NJ: Wiley, 2018, p. 33-44.
    6. Kobelinski, Michel, 2021, Como fazer a história local se tornar pública, e para quem? In: História pública em movimento. SP, Letra e Voz.

  2. Portuguese version below. To all readers we recommend the automatic DeepL-Translator for 22 languages. Just copy and paste.

    OPEN PEER REVIEW
    Voices and looks on Contestado War
    For a long time, books, classes, lectures, academic journals, and forums were the forms of dissemination found by historians to spread historical production and knowledge. The production of knowledge itself, although more varied since it is in dialogue with methods, sources, and historiography, has remained restricted, with some exceptions, to academic circles. Some problems and consequences result from this: endogenous production done for and by peers, a language reproducing an academic discourse far from the one circulating outside the institutional walls, the feeling of a deep gap between the university and society, the same feeling of disharmony concerning the knowledge produced in the academy and taught in Primary education networks and, last but not least, the constant questioning about the meanings and needs of research in history for social and community life as a whole.

    The present work opens doors to access the many possibilities in the field of Public History. As the text states, it proposes to distance itself from “the character of historical dissemination often hastily associated with the practice of public history. We emphasize the potentialities of production and learning rather than the quantitative impact of dissemination”. That is, overcoming that basic idea, although meaningful, that public history would be only that which concerned its forms of dissemination. Hence, it moves towards thinking about the conditions and meaning of the production of historical knowledge, the approach to the community, the problematization of crucial concepts in history, such as time and space, the acceptance of deeply subjective elements, although central to human relations, such as interaction and affection, the concern with the modulation of narration. All of this is mediated by the historian’s specific approach.

    The construction of the text “Narrating the present, remembering the past” dialogues with the idea, “Let a thousand flowers bloom!” Jill Liddington’s (2011, p. 32) answer is accurate: “[…] is ‘public history’ such a welcoming umbrella as to offer shelter to all forms of ‘popular’ history – be it oral history or ‘peoples’ history,’ ‘applied history’ or ‘heritage studies’?  (our translation) He added that “public history certainly is (and should remain) a temple of tolerance” (Liddington: 2011, p. 34). Jill Liddington’s answer offers a way out of the problems in this text’s opening paragraph. In the disclosure and the production of history, we have the incredible and inescapable possibility of exercising tolerance. There is no doubt about the importance of mediation and problematization about the Contestado War with students from Jacinta Nunes Elementary School. Take the example of the dialogue established by Arthur Peixer with the local executive power, whose support was fundamental for the activities carried out. This situation is practically impossible for most students between eleven and thirteen years old.

    Besides all the articulation exposed above, there is still problematizing and, in many cases, presenting one of the saddest and most violent chapters in the history of Brazil: the Contestado War. In a highly violent conflict, the only victim was the country people, plundered and violated, expelled from their homes and lands, denied their religiosity, and criminalized their belief in the monk João Maria. The Contestado War, besides the sad toll of thousands of dead, also produced a process of marginalization and invisibilities of an enormous population contingent in regions of Paraná and Santa Catarina. Thus, their history has almost always been told from the perspective of backwoodsmen and “caboclos,” utterly distant from the idea of civilization, order, and progress, their religiosity exposed as mere credence or superstitious expression.

    Here, we understand the possibility of the “thousand flowers blooming.” When the approach of the academy was made in an integrated way with school and community knowledge when it implies the need to develop other skills to expose narratives, as in this case, the use of the Artsteps Platform, and using photography as a way to mediate this same narrative, the certainty is of dialogue with audiences other than the academic or schooled ones. How many people remain distant from these two realities? What images and imaginaries about Jean-Marie, lumber mills, freight trains, and battles are elaborated? How many feelings are evoked when remembering people, spaces, and situations?

    Finally, public history and its instrumentalization in thinking about the Contestado War open the double possibility of bringing to the historical scene the many and multiple community experiences marginalized and made invisible by the public power, often compartmentalized inside university buildings, as well as allowing the use of the investigative capacity of historians, in what implies scientific rigor and academic method, with a qualified mediation of the benefits and representations of the past for different publics.  Every text presents some point needing more specific reflection, which does not invalidate or compromise its entire contribution. But to allow an even more sensitive view of the current production, a more careful explanation of who the school kids are would be desirable.  Are they from a peripheral or central neighborhood? The same question applies to the school. Was the subject that focused on photography in the history course or another? How did co-producers, academics, and students in the network react to the shared work? How did the university and the academics benefit from this experience? These pointed questions are directed at the school and teacher, Arthur.

    By reflecting closely on these questions, we can come even closer to the perception that public history can be seen as an interdisciplinary and transdisciplinary practice of co-production of historical knowledge with the academic public and beyond. The diversity of voices, techniques, and interlocutors may allow a thousand flowers to bloom without emptying or trivializing theoretical learning with its methods and procedures but without the pedantry and authoritarianism vogue today.

    _____

    Further Reading

    Liddington, Jill,  O que é História Pública? Os públicos e seus passados. In: Almeida, Juinele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (orgs.). Introdução à História Pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011.

    Zahavi, Gerald, Ensinando História Pública no século XXI. In: Almeida, Juniele Rabêlo & ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (orgs). Introdução à História Pública. São Paulo: Editora Letra e Voz, 2011.

    __________
    Vozes e olhares sobre a Guerra Contestado
    Por muito tempo, livros, aulas, palestras, revistas acadêmicas e fóruns foram as formas de divulgação  encontradas pelos  historiadores para divulgar a produção e o saber histórico. A produção do saber em si, embora mais variada em diálogo com métodos, fontes e historiografia, manteve-se restrita, salvo exceções nos círculos acadêmicos. Daí decorrem alguns problemas e consequências: produção endógena feita para e por pares, linguagem reprodutora de um discurso acadêmico distante daquele circulante fora dos muros institucionais, sensação de uma profunda distância entre a universidade e a sociedade. A mesma sensação de descompasso em relação ao saber produzido na academia e ensinado nas redes de Educação Básica. Por fim, o constante questionamento sobre os sentidos e necessidades da pesquisa em história para a vida social e comunitária.

    O presente trabalho abre portas para acessar as muitas possibilidades no campo da História Pública. Como diz o próprio texto a proposta do mesmo é se distanciar do “caráter de divulgação histórica muitas vezes atrelado à prática da história pública de forma apressada. O que destacamos são antes as potencialidades da produção e da aprendizagem que o impacto quantitativo da divulgação”. Ou seja, superando aquela ideia básica, embora com sentido, de que história publica seria tão-somente aquilo que dizia respeito às suas formas de divulgação. Daí que caminha para pensar as formas e sentido de produção do saber histórico, a aproximação com a comunidade, a problematização de conceitos chaves da história, como tempo e espaço, a aceitação de elementos profundamente subjetivos, embora centrais nas relações humanas, como interação e afeto, a preocupação com a modulação da narração. Tudo isso mediado pelo trato e pelo fazer específico do historiador.

    A construção do texto “Narrar o presente, recordar o passado” dialoga com a ideia: “Deixai que mil flores desabrochem!”  A resposta de Jill Liddington (2011, p. 32) é precisa: […] a ‘história pública’ é um guarda-chuva tão acolhedor a ponto de oferecer abrigo a todas as formas de história ‘popular’ – seja ela a história oral ou a ‘história dos povos’, a ‘história aplicada’ ou os ‘estudos dos patrimônios’? Acrescentou ainda que “a história pública certamente é (e deve continuar sendo) um templo de tolerância”. (Liddington: 2011, p. 34). A resposta de Jill Liddington nos oferece uma saída para os problemas do parágrafo inicial deste texto. Tanto na divulgação quanto na produção da história, temos a incrível e inescapável possibilidade de exercer a tolerância. Não há dúvidas sobre a importância da  mediação e da problematização sobre a Guerra do Contestado com alunos da escola de Ensino Fundamental – Escola Jacinta Nunes. Veja-se o exemplo de diálogo estabelecido por Arthur Peixer com o poder executivo local, cujo suporte foi fundamental para as atividades realizadas. Esta situação é praticamente impossível para a maioria dos estudantes entre onze e treze anos de idade.

    Além da articulação exposta acima, resta ainda o fato de problematizar, e apresentar um dos capítulos mais tristes e violentos da história do Brasil: a Guerra do Contestado. Um conflito extremamente violento no qual a única vítima foi a população sertaneja, espoliada e violentada, expulsa de suas casas e terras, negada sua religiosidade e criminalizada sua crença no monge João Maria. A Guerra do Contestado, para além da triste cifra de milhares de mortos, produziu ainda um processo de marginalização e invisibilização de um enorme contingente populacional em regiões do Paraná e Santa Catarina. Assim, sua história quase sempre foi contada sob a perspectiva dos sertanejos e caboclos completamente distantes da ideia de civilização, ordem e progresso, sua religiosidade exposta como mera crendice ou expressão supersticiosa.

    É aqui que entendemos a possibilidade de “mil flores desabrocharem”. Quando a aproximação da academia se fez de forma integrada com o saber escolar e de uma comunidade onde a guerra se desenvolveu, quando implica na necessidade de desenvolvimento de outras habilidades de exposição das narrativas, como no caso o uso da Plataforma Artsteps e usando a fotografia como forma de mediação desta mesma narrativa, a certeza é de diálogo com públicos outros que não apenas o acadêmico ou escolarizado. Quantas pessoas ficam distantes dessas duas realidades? Que imagens e imaginários sobre João Maria, moinhos de madeira, trens de carga, batalhas são elaboradas? Quantos sentimentos são evocados ao rememorar pessoas, espaços e situações?

    Finalmente, a história pública e sua instrumentalização em torno da   Guerra do Contestado abre a dupla possibilidade de trazer à cena histórica as múltiplas experiências comunitárias marginalizadas e invisibilizadas pelo poder público, compartimentada muitas vezes dentro dos edifícios universitários, quanto permitir o uso da capacidade investigativa dos historiadores, no que isso implica rigor científico e método acadêmico, com uma mediação qualificada dos usos e representações do passado para diferentes públicos.

    É óbvio que todo texto apresenta algum ponto carente de reflexão mais pontual, o que não invalida e nem compromete toda sua contribuição. Mas, apenas para permitir um olhar ainda mais sensível sobre a presente produção, creio que uma explanação mais cuidadosa sobre quem são os jovens da escola que co-produziram o conhecimento aqui expresso para além de suas idades? Mas, para permitir uma visão ainda mais sensível da produção atual, uma explicação mais cuidadosa sobre quem são os jovens da escola seria desejável.  São de um bairro periférico ou central? A mesma pergunta vale para a escola. A disciplina que enfocou a fotografia era no curso de História ou outro? Como ambos os co-produtores, acadêmicos e alunos da rede, reagiram ao trabalho partilhado? Como a universidade e os acadêmicos se beneficiaram desta experiência? Estas questões apontadas se direcionam para a escola e para o professor Arthur.

    Ao refletir detidamente sobre estas questões creio que podemos nos aproximar ainda mais da percepção de que a história pública pode ser vista como uma prática  interdisciplinar e transdisciplinar de co-produção de conhecimento histórico com públicos acadêmicos e com as audiências. A multiplicidade de vozes, práticas e interlocutores pode ser, sim, a possibilidade de mil flores desabrocharem, sem esvaziar ou banalizar o saber acadêmico com seus métodos e procedimentos, mas, também, sem o pedantismo e autoritarismo tão em voga nos tempos atuais.

    _____

    Leitura adicional

    Liddington, Jill,  O que é História Pública? Os públicos e seus passados. In: Almeida, Juinele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (orgs.). Introdução à História Pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011.

    Zahavi, Gerald, Ensinando História Pública no século XXI. In: Almeida, Juniele Rabêlo & ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (orgs). Introdução à História Pública. São Paulo: Editora Letra e Voz, 2011.

     

  3. To all readers we recommend the automatic DeepL-Translator for 22 languages. Just copy and paste.

    Author’s Reply

    Há mais de um século a Guerra do Contestado tem sido narrada por aqueles que Walter Benjamin denominou de “vencedores de turno”. Os algozes do passado seguem violentando os homens e mulheres que morreram na Guerra do Contestado perpetuando a ideia de que suas lutas eram motivadas pelo fanatismo, pela barbárie, pelo banditismo. Esse foi um dos fatores centrais para que crianças e jovens da região onde ocorreu o conflito não se identificassem com esses mortos, tampouco desenvolvessem empatia para com a luta pela terra, a busca de uma comunidade de iguais. Associado a isso, outro fator que contribuiu para impedir vínculos entre os remanescentes contemporâneos com esses sujeitos do passado foi o fato de que os chamados caboclos e caboclas do Contestado foram apresentados como a face oposta dos descendentes de imigrantes europeus que vivem no território outrora atingido pelo conflito.

    O que temos visto atualmente é uma virada ética e identitária em relação ao Contestado. Virada que tem reforçado os vínculos culturais entre os caboclos e caboclas do presente e os do passado, que tem reforçado a ideia de que a identidade cabocla não é uma identidade étnica, mas cultural e que, portanto, entre as lideranças do Contestado, havia homens negros, desdentes de populações originárias, mas também de alemães, de poloneses, de italianos. Esse movimento de virada começou com as pesquisas desenvolvidas por intelectuais comprometidos com a memória e com a história. Pesquisas iniciadas na década de 1950 como as de Maurício Vinhas de Queiroz [1] e Duglas Teixeira Monteiro [2], mas também desdobradas em trabalhos recentes como o de Paulo Pinheiro Machado [3], Márcia Espig [4], Viviane Poyer [5] e Gabriel Kunrath [6]. Porém o maior protagonismo contemporâneo tem sido ocupado por professores e professoras da região. Com trabalhos inovadores profissionais como Helen Heine [7], Arthur Peixer [8] e Karoline Fin [9], tem construído novas narrativas sobre o conflito dentro e junto com a comunidade escolar. Olhar para essas frestas, acompanhar o processo de produção dessas histórias, tem sido fundamental para refletir sobre o que Viviane Borges e eu [10] denominamos de terceira margem da história, em especial aquela que nasce do entrelaçamento da História Pública com a História do Tempo Presente.

    Estamos acompanhando o momento de virada, ele terá muitos desdobramentos e o olhar dos historiadores e historiadoras, assim como a parceria e a atuação junto a esses sujeitos, pode ser fundamental para a construção de perspectivas plurais e mais complexas sobre a Guerra do Contestado. Por fim, e não menos importante, é muito apropriada a observação de que esses trabalhos estão no limiar da história local com a história pública. A produção de novas narrativas, em especial a audiovisual, tem universalizado o singular, tem ampliado tanto a perspectiva de história, quando os sentidos do papel da escola como produtora de conhecimento. O olhar fotográfico, em parceria com a tecnologia que permite organizar as imagens em exposição virtual de acesso aberto, leva os trabalhos feitos em pequeno município do planalto catarinense para o mundo. E do mundo, espera-se que ele afete e sensibilize as pessoas para a importância da Guerra do Contestado para a história do Brasil e do Mundo. Isso porque ela é, como tantas outras, a história de luta e de resistência das populações mais pobres em busca de um mundo novo e mais justo.


    [1] Queiroz, Mauricio V. de. Messianismo e conflito social: a guerra sertaneja do Contestado (1912-1916). 3. ed. São Paulo: Ática, 1981.
    [2] Monteiro, Duglas T. Os errantes do novo século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado. São Paulo: Duas Cidades, 1974.
    [3] Machado, Paulo P. Lideranças do Contestado – A formação e a atuação das chefias caboclas (1912-1916). Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004.
    [4] Espig, Márcia J. Personagens do Contestado: os turmeiros da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (1908-1915). Pelotas: Editora Universitária/UFPel, 2011.
    [5] Poyer, Viviani. Fronteiras de uma Guerra: imigração, diplomacia e política internacional em meio ao movimento social do Contestado 1907-1918. 2018, 350f. Tese (Doutorado em História). UFSC, Florianópolis, 2018.
    [6] Kunrath, Gabriel. Não tivemos outro jeito: ou morríamos ou nos defendíamos, uma análise acerca da Batalha do Irani (1912). Dissertação (Mestrado em História), Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2020.
    [7] Professor e divulgador da história do Contestado. Tem desenvolvido projetos de audiovisual com estudantes e promovido trabalho importante de divulgação nas redes sociais. Disponível em: https://www.instagram.com/ensinarthur/. Acesso em 14/11/2022.
    [8] Professora na escola Trinta de Outubro do município de Lebon Régis. Tem desenvolvido importante trabalho de criação teatral com crianças do município. Uma das peças virou filme/documentário. O trailer está disponível em: https://www.facebook.com/watch/?v=711225136649597. Acesso em 14/11/2022.
    [9] Fin, Karoline. O dia em que viajei no tempo: minha família e o movimento do Contestado. Ilustração de Juliana Rafael Ribeiro. 2ª ed. Joaçaba: Editora Unoesc, 2020

Pin It on Pinterest