A operação historiográfica e a produção colaborativa

The Historiographical Operation and Collaborative Production

Abstract: This text proposes a reflection on the possibilities of writing and communicating historiographical narratives, in different languages and for different audiences, based on a collaborative production between historians and university professors from different disciplines and institutions. To this end, two outreach projects are taken as reference: Marginal Archives (UDESC, 2012-present), and III Coletivos (UDESC, UFMG, UFF, 2021).
DOI: dx.doi.org/10.1515/phw-2022-20738
Languages: Portuguese, English


A produção de narrativas históricas não é prerrogativa de historiadores – este é um princípio da história pública que queremos. Qual é, então, a especificidade de historiadores e professores universitários neste processo? Como podem fazer produções colaborativas, comunicando-se com outros sujeitos e instituições, sem abrir mão de seu papel e de suas potencialidades?

Campo? Movimento?

Era dezembro de 2017 e corria o 3o Simpósio Internacional de História Pública, organizado e realizado pela Rede Brasileira de História Pública – RBHP. Na mesa redonda de encerramento, “Tudo o que você queria saber sobre história pública e tinha vergonha de perguntar”, três professores responderam às questões que os simposistas depositaram numa caixinha ao longo do evento.

Num dado momento, diante da pergunta “a história pública é um campo de pesquisa?”, Ana Maria Mauad ponderou algo como: “Campo? Não… Está mais para um movimento, uma movimentação.” Algo na direção que a RBHP procura realizar e que se traduz na sua auto-definição: “(…) uma organização descentralizada de professores, pesquisadores, profissionais e estudantes criada em 2012 com a missão de fomentar debates sobre os desafios da história pública no Brasil”.[1]

Este é um dos traços marcantes da “história pública que queremos”[2]:  diálogo entre diferentes públicos produtores e consumidores de narrativas históricas, com olhar crítico sobre processos, resultados e comprometimento ético. Uma produção colaborativa, com horizontalidade no debate e “autoridades compartilhadas”,[3] reconhecendo os diferentes lugares e objetivos de cada sujeito que produz narrativas históricas.

Inclusive reconhecendo o nosso papel de historiadores, comprometidos com a produção e a comunicação de narrativas historiográficas, ou seja, com zelo teórico e metodológico na produção do conhecimento histórico. E é disso que trataremos a seguir – uma escolha de eixo reflexivo que não pretende apontar que temos a prerrogativa da produção do conhecimento histórico.

Propomo-nos a refletir, a partir de dois projetos, sobre como podemos, a partir deste lugar de historiadores e professores universitários, e sem abrir mão de nosso compromisso social, operar com narrativas historiográficas em formatos diversos e para diferentes públicos, trabalhando com sujeitos e instituições dispostos à colaboração.

Arquivos Marginais

O projeto Arquivos Marginais foi criado na Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, em 2011, sob a coordenação de Viviane Borges, propondo ações ligadas a salvaguarda e organização de acervos de instituições de confinamento, como hospitais psiquiátricos, leprosários, penitenciárias, bem como a realização de oficinas com internos e funcionários.

Os arquivos guardam histórias de indivíduos que, involuntariamente, foram apreendidos em espaços de confinamento, por não se integrarem ao meio social, sendo considerados perigosos e desviantes. Os documentos que contêm guardam narrativas de e sobre sujeitos marginais, cujas existências foram atravessadas por experiências asilares – sujeitos que foram marginalizados.


Fig. 1: Imagem dos monumentos.

O projeto organizou o acervo do Hospital Colônia Sant’Ana (HCS), criando um Centro de Memória dentro da instituição. Foi realizada a identificação de parte do acervo fotográfico, com participação dos bolsistas e alunos de graduação. Criou-se um espaço de exposição com objetos, fotografias e textos que contam a história do lugar.

Em 2012, passou a atuar junto à Penitenciária de Florianópolis, apoiando as atividades desenvolvidas em um  Memorial,  e a  criação de uma exposição. Em 2013, os prontuários de detentos (de 1930 até 1979) foram doados ao Instituto de Investigação em Ciências Humanas (IDCH/UDESC) para organização e salvaguarda.

O Projeto Arquivos Marginais pode ser pensado na chave da história pública, visto que implica negociação constante na feitura da história, pela universidade, em diálogo com os espaços de confinamento. Em via de mão dupla tem promovido diálogo, atento às demandas dos indivíduos diretamente envolvidos, um fazer com e para, marcado por tensões e expectativas (nem sempre alcançadas).

A curadoria torna-se assim um desafio: as regras do métier são constantemente atravessadas pela necessidade de pensar as especificidades da linguagem expográfica de forma colaborativa.

Trabalho em rede

Outro projeto de história pública, o III Coletivos foi realizado ao longo do ano de 2021, momento em que ainda vivíamos o isolamento social em função da pandemia de COVID-19. Consistiu num trabalho em rede, visando a formar estudantes de graduação e pós para escritas da história que pudessem atingir outros públicos, usando os recursos da rede social Instagram. Os grupos @arquivosmarginais_, @passadosdificeis e @debatespublicosnahistoria, coordenados, respectivamente, por Viviane Borges (UDESC), Miriam Hermeto (UFMG) e Juniele R. de Almeida (UFF), discutiram temas controversos com base em pesquisas diversas.


Fig. 2. Imagem do Museu

Esses coletivos de história pública tinham em comum o fato de se ocuparem da divulgação científica acerca de temas que abordam as relações entre eventos históricos controversos, em geral marcados por políticas de manutenção de desigualdades e contenção (ou eliminação) de sujeitos indesejáveis; a constituição de memórias sociais sobre tais eventos e sua historicidade, que por vezes implicam silenciamentos, apagamentos e negacionismos; e a ativação patrimonial sobre eventos e memórias dolorosas sobre eles, por agentes da sociedade civil ou do Estado.

Os temas abordados eram questões socialmente vivas: prisões, encarceramento em massa, loucura, desigualdade social, disputas em torno de bens culturais, racismo, machismo, misoginia, xenofobia, feminicídio – múltiplas formas de autoritarismos e exclusões sociais.

A união III Coletivos visava deslocar os estudantes de suas referências habituais e escrever história coletivamente. Realizou  ações conjuntas, com publicações mensais, nas quais alunos de disciplinas de graduação em curso nas três universidades produziam conteúdo juntos: cards em carrossel, IGTV, reels, motivados pelos temas abordados nos perfis. Com o objetivo de formar a equipe, reflexivamente, foi realizado um evento conjunto – I Seminário Patrimônio Cultural e História Pública – com mesas redondas, oficinas sobre produção de conteúdo para o Instagram e produção de podcast.

Os resultados dos trabalhos podem ser vistos nos perfis mencionados, permitindo ao público acompanhar o debate interinstitucional e, aos coletivos, se repensarem a partir do diálogo com o público.


Fig 3: Imagem de uma prisão brasileira

Dentro e fora

Em ambos os projetos, observa-se o apoio da extensão universitária, que se desdobra em outras ações, de pesquisa e ensino, e que tem possibilitado salvaguarda de acervos e divulgação científica sobre são questões históricas socialmente vivas.

As instituições de confinamento só podem ser entendidas através de um movimento de análise em dupla direção – da prisão ou do hospital para a universidade e vice-versa. O movimento multidirecional é também o que move a comunicação da produção historiográfica sobre temas controversos: de uma universidade para a outra, das universidades para outros públicos, destes para a academia.

Neste sentido, podemos concluir, com uma apropriação da canção de Walter Franco, que o ofício de historiadores contemporâneos é um eterno “afinar o instrumento, de dentro pra fora, de fora pra  dentro / a toda hora, a todo momento, de dentro pra fora, de fora pra dentro”. Um trabalho em colaboração com instituições e sujeitos diversos, desafio necessário para a história pública que queremos.

_____________________

Leitura adicional

  • Mauad, Ana Maria, Juniele Rabêlo de Almeida, and Ricardo Santhiago, eds. História Pública no Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
  • Mauad, Ana Maria; Santhiago, Ricardo; Borges, Viviane Trindade (orgs.) Que História Pública Queremos? São Paulo: Letra e Voz, 2018.

Recursos da web

_____________________

[1] Disponível em http://historiapublica.com.br/a-rede; acesso em 28 de setembro de 2022.
[2] Alusão ao título da coletânea Que história pública queremos? What public history do we want? (Ana Maria Mauad et al. eds, Letra e Voz, São Paulo, 2018), com a participação de diversos historiadores brasileiros, respondendo à questão do título em diferentes perspectivas.
[3] Conhecido conceito de Michael Frisch referente à história oral e já utilizado também para pensar as práticas de história pública. Ver, do autor, “A história pública não é uma via de mão única ou De A Shared Authority à cozinha digital e vice-versa” (Ana Maria Mauad, et al., eds. História Pública no Brasil: sentidos e itinerários. Letra e Voz, São Paulo, 2016).

_____________________

Créditos da imagem

Imagem de título: Documentos da Penitenciária de Santa Catarina © Autoria do Projecto Arquivos Marginais, SC, Brasil
Fig.1: Imagem dos monumentos © Projecto III Coletivos, uma autoria colectiva de estudantes da UDESC, UFMG e UFRJ, SC, MG, RJ, Brasil.
Fig. 2: Imagem do Museu © Projecto estudanIII Coletivos, uma autoria colectiva de estudantes da UDESC, UFMG e UFRJ, SC, MG, RJ, Brasil.
Fig 3: Imagem de uma prisão brasileira © Projecto III Coletivos, uma autoria colectiva de estudantes da UDESC, UFMG e UFRJ, SC, MG, RJ, Brasil.

Citação recomendada

Hermeto de Sá Motta, Miriam, Viviane Trindade Borges: A operação historiográfica e a produção colaborativa. In: Public History Weekly 10 (2022) 8, DOI: dx.doi.org/10.1515/phw-2022-20738.

Responsabilidade editorial

Michel Kobelinski / Juniele Rabêlo de Almeida

The production of historical narratives is not the prerogative of historians – this is a principle of public history that we want. What, then, is the specific role of historians and university professors in this process? How can they make collaborative productions, communicating with other disciplines and institutions, without giving up their role and potential?

Field? Movement?

It was December 2017 and the 3rd International Symposium on Public History was taking place, organized and hosted by the Brazilian Public History Network – RBHP. At the closing roundtable, “Everything you wanted to know about public history and were too embarrassed to ask”, three professors responded to questions that the participants placed in a box during the event.

At one point, faced with the question “Is public history a field of research?”, Ana Maria Mauad pondered something like: “Field? No… It’s more of a movement, a drive.” Something in the direction that the RBHP seeks to achieve and which translates into its self-definition: “(…) a decentralized organization of professors, researchers, professionals and students created in 2012 with the mission of fostering debates on the challenges of public history in Brazil ”.[1]

This is one of the outstanding features of the “public history we want”[2]: a dialogue between different disciplines that produce and consume historical narratives, with a critical eye on processes, results and ethical commitment. A collaborative production, with horizontality in the debate and “shared authorities”,[3] recognizing the different positions and objectives of each one.

Recognizing even our role as historians, committed to the production and communication of historiographical narratives, that is, with theoretical and methodological zeal in producing historical knowledge. And that is what we will deal with next – a choice of the reflexive axis that does not intend to point out that we have the prerogative of producing historical knowledge.

Based on two projects, we propose to reflect on how we can, from our position as historians and university professors, and without giving up our social commitment, operate with historiographical narratives in different formats and for different audiences, working with subjects and institutions willing to collaborate.

The Marginal Archives

The Marginal Archives project was created at the University of the State of Santa Catarina – UDESC, in 2011, under the coordination of Viviane Borges, proposing actions related to safeguarding and organizing collections of confinement institutions, such as psychiatric hospitals, leprosaria, prisons, as well as conducting workshops with inmates and employees.

The archives hold the stories of individuals who were involuntarily apprehended in places of confinement for not integrating into the social environment and being considered dangerous and deviant. The documents contain narratives from and about marginal subjects whose existences were crossed by asylum experiences – subjects who were marginalized.


Fig. 1: Image of the monuments

The project organized the collection of the Hospital Colônia Sant’Ana (HCS), creating a Memory Center within the institution. The identification of a part of the photographic collection was carried out with the participation of the scholarship recipients and undergraduate students. An exhibition space was created with objects, photographs, and texts that tell the history of the place.

In 2012, the project began working with the Florianópolis Penitentiary, supporting the activities that developed in a Memorial, and creating an exhibition. In 2013, the records of detainees (from 1930 to 1979) were donated to the Research Institute of Human Sciences (IDCH/UDESC) for organization and safekeeping.

The Marginal Archives Project is the key to public history since it implies constant negotiation in the making of history by the university, in dialogue with the spaces of confinement. In a two-way street, it has promoted dialogue, attentive to the demands of the individuals directly involved, a doing with and for, marked by tensions and expectations (not always achieved).

Curatorship thus becomes a challenge: the rules of the métier are constantly crossed by the need to think about the specificities of the expographic language in a collaborative way.

Networking

Another public history project, the III Collectives, was carried out throughout the year 2021, a time when we were still experiencing social isolation due to the COVID-19 pandemic. It consisted of networking, aiming to train undergraduate and graduate students for history writing that could reach other audiences using the resources of the social network Instagram. The groups @arquivosmarginais_, @passadosdifificeis, and @debatespublicosnahistoria, coordinated, respectively, by Viviane Borges (UDESC), Miriam Hermeto (UFMG) and Juniele R. de Almeida (UFF), discussed controversial themes based on diverse research.


Fig. 2. Museum image

These public history collectives had in common the fact that they were concerned with the scientific dissemination of themes that address the relations between controversial historical events, in general marked by policies of maintenance of inequalities and containment (or elimination) of undesirable subjects; the constitution of social memories about such events and their historicity, which sometimes imply silencing, erasure, and negationism; and the patrimonial activation of events and painful memories about them, by agents of civil society or the State.

The themes addressed were vital social issues: prisons, mass incarceration, madness, social inequality, disputes over cultural goods, racism, masculinity, misogyny, xenophobia, feminicide – multiple forms of authoritarianism and social exclusion.

The union III Coletivos aimed to move students away from their usual references to write history collectively. It carried out joint actions with monthly publications, in which students from undergraduate disciplines in the three universities produced content together: carousel cards, IGTV, and reels, motivated by the themes addressed in the profiles. To reflexively form the team, a joint event was held – I Seminar Cultural Heritage and Public History – with round tables and workshops on content production for Instagram and podcast production.

The work results can be seen in the profiles mentioned, allowing the public to follow the interinstitutional debate, and the collectives to rethink themselves based on the dialogue with the public.


Fig 3: Image of a brazilian prison

From Inside to Outside

In both projects, one can observe the support of university outreach, which has developed into other actions, research, and teaching, and has enabled the preservation of collections and scientific dissemination on socially relevant historical issues.

Institutions of confinement can only be understood through a two-way analysis movement – from prison or hospital to university and vice-versa. The multidirectional action also moves the communication of historiographical production on controversial topics: from one university to another, from universities to other publics, and from these to the academy.

In this sense, we can conclude, by appropriating Walter Franco’s song, that the craft of contemporary historians is an eternal “tuning of the instrument, from inside to outside, from outside to inside / all the time, all the time, from inside to outside, from outside to inside.” Working in collaboration with diverse institutions and subjects is a critical challenge for the public history we want.

_____________________

Further Reading

  • Mauad, Ana Maria, Juniele Rabêlo de Almeida, and Ricardo Santhiago, eds. História Pública no Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
  • Mauad, Ana Maria; Santhiago, Ricardo; Borges, Viviane Trindade, eds. Que História Pública Queremos? São Paulo: Letra e Voz, 2018.

Web Resources

_____________________

[1] Available at http://historiapublica.com.br/a-rede; accessed September 28, 2022.
[2] Allusion to the title of the collection Que história pública queremos? What public history do we want? (Ana Maria Mauad et al. eds,, Letra e Voz, São Paulo, 2018), with the participation of several Brazilian historians, asnwering the title’s question from different perspectives.
[3] The general concept by Michael Frisch refers to oral history and is used to think about public history practices. The author says, “A história pública não é uma via de mão única ou De A Shared Authority à cozinha digital e vice-versa” (Ana Maria Mauad, et al., eds. História Pública no Brasil: sentidos e itinerários. Letra e Voz, São Paulo, 2016).

_____________________

Image Credits

Featured Image:  Santa Catarina Penitentiary Documents © Projecto Arquivos Marginais (Marginal Archives Project), SC, Brazil.
Fig.1: Image of the monuments, © III Coletivos Project, a collective authorship of students from UDESC, UFMG e UFRJ, SC,  MG, RJ, Brazil.
Fig. 2: Museum image, © estudanIII Coletivos Project, a collective authorship of students from UDESC, UFMG e UFRJ, SC, MG, RJ, Brazil.
Fig 3: Image of a brazilian prison, © III Coletivos Project, a collective authorship of students from UDESC, UFMG e UFRJ, SC, MG, RJ, Brazil.

Recommended Citation

Hermeto de Sá Motta, Miriam, Viviane Trindade Borges: The Historiographical Operation and Collaborative Production. In: Public History Weekly 10 (2022) 8, DOI: dx.doi.org/10.1515/phw-2022-20738.

Editorial Responsibility

Michel Kobelinski / Juniele Rabêlo de Almeida

Copyright © 2022 by De Gruyter Oldenbourg and the author, all rights reserved. This work may be copied and redistributed for non-commercial, educational purposes, if permission is granted by the author and usage right holders. For permission please contact the editor-in-chief (see here). All articles are reliably referenced via a DOI, which includes all comments that are considered an integral part of the publication.

The assessments in this article reflect only the perspective of the author. PHW considers itself as a pluralistic debate journal, contributions to discussions are very welcome. Please note our commentary guidelines (https://public-history-weekly.degruyter.com/contribute/).


Categories: 10 (2022) 8
DOI: dx.doi.org/10.1515/phw-2022-20738

Tags: , , , ,

2 replies »

  1. Portuguese version below. To all readers we recommend the automatic DeepL-Translator for 22 languages. Just copy and paste.

    OPEN PEER REVIEW

    Diapason

    In the text “The Historiographical Operation and Collaborative Production,” the author gives us news of two current initiatives of public history in Brazil: Arquivos Marginais, from the State University of Santa Catarina, and III Coletivos, from the same institution, the Fluminense Federal University (UFF) and the University of Minas Gerais (UFMG).

    Without hesitation, I access the site and the pages and see the potential that the material produced has to attract new audiences. A preliminary analysis allowed me to realize that these are works whose creators direct a careful look at subjects that have been historically marginalized and controversial themes through digital  public history in an accessible, short, and, as much as possible, reasoned language.

    Besides the reference to the public history initiatives, the short text caught my attention because of the assumptions (theoretical, methodological, and moral) that, according to the author, sustain such works, including “horizontality in the debate” and “shared authorities,” which, together with others, converge to the “public history we want” (in this case, the one the author wants).

    Even for those who are already used to writing history (academic, scholarly, or popular), these two assumptions raise many questions, some of them naive, but whose answers, if I am not too wrong, may be enriching for all of us – researchers and the general public. Therefore, presenting some of these questions and starting a dialogue is appropriate. Here they go:

    Can there be “horizontality in debate”? Don’t those involved in a conversation or the collection of testimony, for example, already carry with them values that condition the respective representations and practices of one towards the other in such a way that this implies different weights (therefore, not horizontal) in the coproduction of meaning? Is horizontality possible, even if this is the sincere and honest intention of the historian? Or is there a specific concept of horizontality? If so, what would it be?

    When it concerns “shared authorities,” it seems to me that Michael Frisch and, before him, oral history practitioners have already encountered insightful questioning. Despite the history of the debates, making room for comments here on specific aspects may be beneficial, such as: What is shared? How much of the historian’s and the “collaborator’s,” “authority” is granted, and how much is subsumed? What about when there are mismatches of perspectives? And when historian recognizes misunderstandings, do they omit themselves, “merely” describe the representation, or intervene? And, if he interferes, does his “authority” override?

    Finally, if both assumptions are feasible, what would be the benefits of incorporating them? More consistent answers would require a breath not suitable for a commentary. Still, I imagine that it is viable, to the extent possible, to mention how the “horizontality in the debate” and the “shared authorities” acted in the specific development in the (co)production of some of the works developed by the groups.

    Thus, who knows, we will have one more resource to improve the tuning of our instrument. The non-academic public will have one more good reason to be interested not only in the final result of the research but also in the complex and exciting process of fabrication of the stories that “from the inside out and the outside in” we tell.

    ____________________

    Diapasão

    No pequeno texto “A operação historiográfica e a produção colaborativa”, o/a autor/a nos dá notícia de duas iniciativas contemporâneas de história pública (HP) no Brasil: Arquivos Marginais, da Universidade do Estado de Santa Catarina, e III Coletivos, da mesma instituição, da Universidade Federal Fluminense e da de Minas Gerais.

    Sem hesitação, acesso ao site e às páginas e constato o potencial que o material produzido tem para atrair novas audiências. Uma análise preliminar permitiu-me perceber que se trata de trabalhos cujos realizadores dirigem um olhar atento a sujeitos que foram historicamente marginalizados e/ou temáticas controversas, por meio de uma história digital em linguagem acessível, curta e, tanto quanto possível, fundamentada.

    Para além da remissão às iniciativas de HP, o pequeno texto me chamou a atenção por conta dos pressupostos (teóricos, metodológicos e morais) que, segundo o/a autor/a, sustentam tais trabalhos, entre os quais, “horizontalidade no debate” e “autoridades compartilhadas”, que, em conjunto com outros, convergem à “história pública que queremos” (no caso, a que o/a autor/a quer).

    Mesmo para quem já está habituado com a escrita da história (acadêmica, escolar ou de divulgação), esses dois pressupostos suscitam muitas dúvidas, algumas, aparentemente, ingênuas, mas cujas respostas, se eu não estiver muito enganado, podem ser enriquecedoras para todos nós – pesquisadores e grande público. Por isso, entendi ser oportuno apresentar algumas dessas questões e, assim, iniciar um diálogo. Aqui vão:

    Será que pode haver “horizontalidade no debate”? Será que os envolvidos em uma conversa ou na coleta de depoimento, por exemplo, já não carregam consigo valores que condicionam as respectivas representações e práticas de um para com o outro de modo que isso implique em pesos diferentes (logo, não horizontais) na coprodução de sentido? Será que a horizontalidade é possível, mesmo esta seja a intenção sincera e honesta do historiador? Ou será que se trata de um conceito específico de horizontalidade? Se sim, qual seria?

    No que se refere às “autoridades compartilhadas”, me parece que o próprio Michael Frisch e, antes dele, praticantes da história oral, já se depararam com questionamentos perspicazes. Apesar do histórico dos debates, abrir espaço para comentários aqui sobre aspectos pontuais pode ser proveitoso, tais como: o que, especificamente, se compartilha? Qual a dimensão da “autoridade” do historiador, e do “colaborador”, é concedida e qual é subsumida? E quando há desencontros de perspectivas? E quando o historiador reconhece equívocos, ele se omite, “apenas” descreve a representação ou intervém? E, se intervém, sua “autoridade” se sobrepõe?

    Enfim, considerando que ambos os pressupostos sejam exequíveis, quais seriam os benefícios de incorporá-los? Sei que respostas mais consistentes exigiriam fôlego impróprio para um comentário, mas, imagino que seja viável, na medida possível, mencionar como a “horizontalidade no debate” e as “autoridades compartilhadas” atuaram no desenvolvimento específico na (co)produção de alguns dos trabalhos desenvolvidos pelos grupos.

    Assim, quem sabe, teremos mais um recurso para aprimorarmos a afinação do nosso instrumento e o público exógeno ao meio acadêmico mais um bom motivo para se interessar não apenas pelo resultado final de pesquisas, mas, também, pelo complexo e interessante processo de fabricação das histórias que, “de dentro pra fora e de fora pra dentro”, contamos.

    _____

    Further Reading

    – Frisch, Michael, A shared authority: essays on the craft and meaning of oral and public history. Albany: State University of New York Press, 1990.

    – Mello, Ricardo Marques de, Para que serve a história? A perspectiva de Hayden White. Londrina: EDUEL, 2017.

    – Mello, Ricardo Marques de, Como a escrita da história é elaborada? Uma breve explicação sobre como historiadores convertem informações do passado em livros de história. Curitiba: Casa Editorial, 2022.

    Web Resources

    – Mello, Ricardo Marques de, “How is the writing of history elaborated?” Instagram, 2022: https://www.instagram.com/tv/CiDI6pesV7P/?igshid=YmMyMTA2M2Y%3D (last accessed 17 November 2022).

  2. To all readers we recommend the automatic DeepL-Translator for 27 languages. Just copy and paste.

    Están, estamos en movimiento

    Ha sido un gusto leer este trabajo e iniciar así el intercambio de experiencias y miradas con referentes de la Red Brasileña de Historia Pública (RBHP) y el colectivo de Public History Weekly.

    A partir del análisis de dos proyectos colaborativos, Arquivos Marginais (2011-presente) y III Colectivos Project (creado en 2021) que dan cuenta de la integración de profesores/as y estudiantes en amplias tramas horizontales con otras instituciones y sujetos para la construcción y circulación de narrativas históricas silenciadas (1) en el espacio público, el artículo nos permite reflexionar sobre cómo la llamada operación historiográfica -cuyos diferentes momentos tanto Michel de Certeau como Paul Ricoeur ayudaron a esclarecer y estructurar unas décadas atrás (2)-, puede verse conmovida o, al menos, complejizarse, gracias a la Historia Pública.

    Sin pretender ningún monopolio para la construcción de conocimiento histórico, quienes hemos elegido profesionalizarnos como historiadores/as, encontramos en estas experiencias dos valiosos ejemplos para reivindicar la práctica colectiva, colaborativa, situada, y exponer sus “beneficios” en el contexto actual.

    A través del conocimiento de los casos que allí se recuperan, recorriendo además sus sitios webs y redes, podemos observar cómo han ido impulsando la creación de nuevos archivos y la construcción de nuevas fuentes sobre temas de profunda relevancia social, han producido interpretaciones en plural, dialógicas, a través de talleres y encuentros, y han intervenido en el espacio público, en especial en el desafiante mundo de las redes como Instagram, para interactuar con diferentes sectores de la sociedad, incluso en tiempos de pandemia de COVID.

    La Historia Pública feita no Brasil ofrece así coordenadas claras sobre sus intereses y revela, al mismo tiempo, las limitaciones de la historia profesional y sus prácticas de origen (3), individualizadoras o solitarias, que sucesivas renovaciones historiográficas han continuado privilegiando. Además, en tiempos de neoliberalismo feroz, abandonar la autoría individual, la investigación aislada, la reflexión pura y exclusivamente introspectiva, la exposición en ámbitos acotados sin interés de feed-back, constituyen alternativas revolucionarias para la intervención desde cada una de nuestras universidades tanto como el abordaje de cuestiones “socialmente vivas” y/o controvertidas.

    Pienso estas palabras desde Argentina, desde las Universidades Nacionales de Quilmes y de La Plata donde trabajo. Valoro enormemente desde aquí los caminos que abren esos proyectos, las huellas que van dejando y también los efectos de multiplicación que generan artículos reflexivos como el presente para abonar a nuestra formación. Podemos desde allí cartografiar vínculos posibles e intercambios necesarios. En más de un sentido, otra historia es posible. Están, estamos en movimiento.

    ————
    (1) Trouillot, Michel-Rolph (2017). Silenciando el pasado: el pasado poder y producción de la historia, Granada: Universidad de Granada. Traducción realizada por Miguel Ángel del Barco Blanco.

    (2) Ricœur, Paul (2008). La memoria, la historia, el olvido. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2ª edición

    (3) Smith, Bonnie G. (2021). El género de la historia. Hombres, mujeres y prácticas históricas. Bernal: Editorial de la Universidad Nacional de Quilmes.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

 characters available

I accept that my given data and my IP address is sent to a server in the USA only for the purpose of spam prevention through the Akismet program.More information on Akismet and GDPR.

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Pin It on Pinterest